quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sentados frente a frente, eu na minha cadeira, tu na tua, olhas-me fixamente, com esse olhar meigo e tão teu... Retribuo-te o olhar e peço-te desculpa. Desculpa por nem sempre te ter sabido compreender como merecias...

Hoje ao ver algo na televisão fez-se finalmente luz na minha cabeça. Uma luta interior em que sentia que devia alguma coisa ao meu pai há 11 anos, hoje percebi o quê, um pedido de desculpa.
Como já o disse algumas vezes, sempre me senti diferente dos restantes membros da minha família, nunca me senti integrada e igual a eles, assim como sempre percebi que o meu pai sentia igual, cada um à sua maneira sabíamos que não pertencíamos ali.
Para mim sempre foi mais fácil ser defendida pela minha mãe, sabia-me bem que me passasse a mão na cabeça em vês de me obrigar a seguir as regras impostas pelo meu pai, hoje entendi que sempre fui manipulada por ela para ter os filhos do lado dela e assim tirar o poder ao meu pai.
Durante mais ou menos um ano depois de o meu pai morrer, o meu principal sentimento foi de revolta, revolta contra os que o criticavam diariamente e que depois de ele morrer fizeram dele um santo, entendi que estavam a lidar com os seus sentimentos de culpa, mas na altura revoltou-me.
Hoje percebi que devo um grande pedido de desculpa ao meu pai por tantas vezes ter aceite as manipulações da minha mãe, e também eu ter ficado contra ele.

Desculpa-me pai, desculpa-me não ter entendido que, à tua maneira, estavas a tentar fazer de mim uma pessoa com valores sólidos e justos, que querias que as minhas acções reflectissem a minha maneira de pensar e que não me permitisse agir da maneira que me dava mais jeito, desculpa-me ter tantas vezes ficado contra ti. Hoje que sou adulta e mãe compreendo-te, compreendo que havendo regras é tão mais fácil crescer, havendo limites não há necessidade da revolta diária que tantas vezes experimentei por me sentir incompreendida. Espero sinceramente que o meu filho opte pela educação com regras e limites em vez da (des)educação em que tudo é permitido desde-que não levante ondas.

Desculpa principalmente por também eu ter feito de ti o mau e da minha mãe a boa, que lutava por mim, quando foi precisamente o contrário, desculpa por na altura não ter entendido e não te ter defendido como devia, pois acho que os dois juntos teríamos arranjado espaço para podermos ser quem somos e não sermos obrigados a se-lo apenas dentro de nós mesmos.

Ao perceber esta minha necessidade do teu perdão, ao conseguir ligar as pontas soltas e ver a minha infância e juventude como um todo e não apenas fragmentos, sinto como que se um peso grande que carregava nos ombros se tivesse finalmente dissipado, dando-me novas ferramentas que tenho que aprender a maneja-las com arte para solidificar a minha relação com o meu filho e torna-la em algo mais proveitoso para os dois.




4 comentários:

  1. Nunca conheci o teu pai, só o conheço pelas tuas palavras, mas sei que ele se lesse hoje estas tuas palavras teria muito muito orgulho na sua filha adulta.

    Bjinhossssssss

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  2. Obrigada amor.
    Quanto ao "filha adulta", vou sendo, uns dias mais que outros...

    Beijo grande para ti

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  3. Entendo em parte aquilo que sentes Ana. Eu também já perdi o meu pai (faz pro próximo mês 14 anos), mas lembro-me muitas vezes dele, com saudades... Nunca me bateu. Bastava um olhar dele pra nos deixar em sentido. Em casa era rei e senhor, mas no fundo no fundo era fácil de se lhe dar a volta, pois era um coração mole :).
    Ler o que escreveste sobre o teu pai, fez-me recordar o meu. Fez-me bem, são recordações sempre agradáveis.
    Estou como diz a Lady, se o teu pai ainda fosse vivo iria estar muito orgulhoso de ti (tenho a certeza que, onde quer que ele esteja, está feliz por ti :).

    Beijinhos Amiga *_*

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  4. Obrigada pelo comentário Deusa, também quero querer que onde quer que está sente orgulho por me ter tornado no que ele gostaria, alguém que PENSA.

    Beijinho

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